Nuvens de chumbo cobriram o azul do céu.
Era uma tarde em Janeiro, como qualquer outra.
Estrias prateadas romperam fissuras pelas paredes do firmamento.
O ar explodiu como fosse a queda de um anjo...
(Um homem fez o sinal da cruz e beijou as pontas dos dedos...)
Poderosas gotas, grossas e densas, lançaram-se ao solo feito bombas.
Chocaram-se violentamente contra tudo e todos...
(Do outro lado da rua uma mulher de setenta
Correu como uma moça de vinte
Caindo como uma criança: de quatro.)
Bocas de lobos já não engoliam: regurgitavam.
Pequenas corredeiras formavam-se entre ruas e calçadas.
Nasceram filhotes de rios intransponíveis.
O vento gingou, fintou e mudou a direção da chuva.
Os protegidos foram pegos desprevenidos.
Árvores curvaram-se em reverência à passagem do Titã
E, em algum lugar, desesperadas telhas fugiram dos telhados.
O ritmo da vida diminuiu até parar.
E... algumas parariam mesmo naquele dia.
Os urubus da nova era noticiariam, mais tarde, a Loteria da Vida:
O prêmio acumulara novamente:
Só houve perdedores.
verão 2011/2012