sábado, 15 de setembro de 2012

Indelével

Cansa-me esta vida que não passa;
O trocar das máscaras de todos os dias;
O sorriso que não sei mais expressar;
No rosto a paisagem que se apagou;
O "bom dia" que não sei mais se será...
Será?

Há dias que saio por aí e perco-me;
Dias que não estou em mim... ainda que esteja;
Dias de profundas tristezas;
Agonias opressoras e desumanas;
Apertos no peito que nem sei de onde vêm...
Um lacrimejar pelos cantos da alma como que perdesse entes queridos;
Um lamentar-se sem fim de quem nunca tem nada e ainda sim perde tudo na tragédia...

Do alto da colina dos anseios contemplo todos os funerais que há em mim:
Sonhos, que nunca serão, enterrados na vala comum do que sou...
E encerra-se em mim o tiro letal que não matou;
A fuga desenfreada, da qual ninguém escapou;
Da criança sem sono, no escuro, seu desespero;
Os homens de preto, sérios, no enterro;
A balança alterada do Bem e do Mal;
Os selos corrompidos do Juízo Final;
O canudo lacrado escondendo um diploma;
A felicidade inerte em dezesseis anos de coma;
A ironia do sobrenome (sorte?);
A vida que talvez só me encontre na morte;
O suicida e seu próprio fracasso;
A lentidão do tempo devorando o aço;
A cicatriz antiga que encolheu e fechou;
A verdadeira ferida que nunca cicatrizou;
A lágrima que escorreu e pingou e ninguém viu;
O pássaro belo que preso ninguém mais ouviu;
A porta aberta pela qual ninguém entrou;
O noivo no altar que a noiva abandonou;
O grito que morreu assim que saiu;
O olhar de deus, que me ignorou e partiu...

Jazem em mim, adormecidas, todas as possibilidades impossíveis de serem
Às margens de erros de todas as estatísticas incompreensíveis:
Folhas secas que me caem do espirito
Como variáveis negativas sem soluções mirabolantes...
E a esperança é o cálculo que não previu os acidentes que  aconteceriam
E dolorosamente aconteceram....


Por entre lápides sem nomes e velhos ciprestes tristes
Novamente a revejo: descalça, como nunca deixara de estar,
Sobre o que sobrou da grama, outrora verde,
Do que restou da alma, outrora viva,
A moça, a mesma de outrora e de sempre,
Depondo seus lírios sobre corpos recém sepultados
E sussurrando suas preces sinceras sob a chuva:


"Um lírio para cada oportunidade que morreu;
Um lírio para cada semente que não vingou;
Um lírio para cada prece não atendida;
Um lírio para você e outro para mim;

Um lírio para cada adeus e despedida;

Amém."

E de repente invade-me uma estranha sensação de paz absoluta:

Faltará lírios no mundo...
Além!

10/08/2012





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