domingo, 3 de agosto de 2014

Ocaso ao Acaso




Sinto teu sorriso,

Tua pele a me tocar,

Quando vejo o sol

Que se põe no azul do mar.




Tudo tão bonito,

Natural e espontâneo.

Tudo tão distante,

Irreal e momentâneo...



... um fim de tarde sem você.





São Paulo, 04 de Julho de 2014

domingo, 20 de julho de 2014

Um Domingo Qualquer








Deitado sobre a grama, sob a sombra de uma árvore frondosa, em um parque público, ele estava quase cochilando de tédio ao folear as páginas de uma revista semanal, quando a viu caminhando em sua direção: pequenos passos firmes, decididos e levemente acelerados conduziam aquela pequena criaturinha.



Um vento lateral alinhara os cabelos castanhos claros dela para o lado direito da face formando uma linda assimetria; normalmente isso a teria incomodado ao ponto de retirar o elástico de cabelo que carregava em um dos pulsos e prendê-los em seguida. Foi quando ele reparou que suas mãozinhas estavam unidas em forma de uma conchinha e no seu rosto o mais belo sorriso que uma criança de quatro anos poderia esboçar.

Ao se aproximar, ela desacelerou os passos tranquilamente e adotou uma postura calma e serena... Igualzinho a mãe, pensou ele e sorriu.

- Aconteceu alguma coisa?

- Shh... – sibilou ela entre os pequenos lábios.

Como se possuísse uma espécie de pequeno e raro tesouro ela se sentou ao lado dele.

- O que tem aí?

- Fala baixo pai!

- Tá - disse ele sussurrando. Mas... o que tem aí?

Ela levou as mãos fechadas em direção ao rosto dele e, suavemente, as abriu um pouco. Ele espiou dentro, mas não conseguiu ver o que era.

- Não consegui ver o que era.

- É uma joaninha!

- É?

- É!

- E por que estamos sussurrando?

- O que?!

- Su - ssu - rran – do: falando baixinho.

- Ah... é para não assustar ela, ora!

Uma brisa suave lhe trouxe um aroma familiar e ele sorriu.

- Não precisamos sussurrar, ela não entende o que falamos.

- Você quem pensa!

Ele riu. A cada dia que se passava, a cada conversa, em cada gesto, ela refletia a beleza e a personalidade da mãe em tudo.

- E o que você pretende fazer com ela?

- Levar ela para casa.

Ele desfez o sorriso e olhou-a intensamente nos olhos.

- Não podemos.

- Por que não?

- Porque, em algum lugar, ela deve ter uma família que está esperando ela voltar.

- Mas... e se não tiver?

- Ana... esse bichinho...

- Joaninha!

- Tá: essa joaninha que você tem entre as mãos não é o tipo de... bichinho que você pode ter em casa. Olhe em volta filha, nossa casa não se parece com um parque que é onde as joaninhas vivem. Além do mais você sabia que elas voam?

- Sabia. Foi ela que veio até eu.

- Até mim. Repete.

- Foi ela que veio até mim.

- Isso. Então, não é justo prender um ser vivo que não fez mal algum a alguém e que foi feito para voar.

- Mas a vovó tem aquele pássaro amarelo...

- ...que fica o dia todo preso e nem canta mais de tanta tristeza que sente!

- Os pássaros... quando estão tristes não cantam!?

- Não só os pássaros...

- Então por que as pessoas prendem eles?

- Egoísmo.

- O que é isso?

- É um sentimento ruim. Surge quando você - e ele apontou o dedo indicador para ela - toma uma decisão sem levar em consideração as consequências que afetarão a outra parte - e moveu o dedo que ainda estava apontado para ela em direção as suas mãozinhas unidas.

- Eu sou ego... ego...

- E - go - ís - ta.

- Egoísta. Eu sou egoísta?

- Não, você não é egoísta, mas está agindo como se fosse. O que sua mãe disse quando você mostrou a joaninha para ela?

Ela levantou a cabeça, olhou em direção a árvore sob a qual estavam, e tornou a olhá-lo novamente.

- Nada.

- Sei...

Ana ficou olhando para as mãos durante um tempo, e através das pequenas expressões que sua face demonstrava, ele percebeu que o pequenino cérebro por trás daquela radiante beleza estava processando as informações para decidir o que faria logo em seguida.

- Eu não me lembro onde eu estava quando ela veio até mim... Queria deixar ela no mesmo lugar.

- Não tem problema, meu anjo, é só soltar. Ela dá um jeito de chegar onde tem que ir.

Enquanto ela abria as mãos, ele se ajeitou e escorou as costas no tronco da árvore. A joaninha demorou um tempo até que se desse conta de que não estava mais presa e voou. Ana sussurrou um “tchau”, sentou-se ao lado do pai e encostou a cabeça em seu peito.

- É verdade...

- O que é verdade, Ana?

- Não são só os pássaros...

Ele ficou digerindo suas próprias palavras que retornaram através da pequena Ana.

- Por que você não vai brincar um pouco filha? Daqui a pouco vamos voltar para casa e você não aproveitou nada deste dia.

A princípio ela deu de ombros, mas tão rápido quanto tinha se decidido por ficar, levantou-se e saiu correndo em direção ao playground.

Ele esboçou um sorriso e disse:

- Você me apronta cada uma, hein mocinha?

Bel se deslocou da parte de trás do tronco da árvore e se sentou ao lado dele.

- Isso foi para mim ou para ela?

- Essa é para você, mocinha. Por que não explicou a ela que não poderia levar a joaninha para casa?

- Por que você explicaria melhor.

- Vai chegar um dia em que será você quem terá que explicar algumas coisas para ela.

- Eu sei... Mas até lá nós duas temos você.

- Sei...

- Eu sei que você sabe... gosto quando já sabe. E por falar nisso, quando foi que você descobriu que eu estava aqui?

- Percebi pelo seu perfume, o vento mudou de direção e entregou sua proximidade; e depois quando ela olhou diretamente para você e você fez um sinal para que ela ficasse em silêncio.

- Como você viu, se estava de costas!?

- Não vi. Ana teria dito que você pediu para que ela viesse me mostrar e perguntar se podia ou não ficar com a joaninha, mas quando você a sinalizou ela ficou confusa e tudo que saiu foi “nada”.

Bel se aninhou ao peito dele, assim como Ana havia feito minutos antes. Agora, próximo ao rosto dele, o inconfundível perfume de Bel era total e predominante. Ela se virou e apoiando a cabeça em seu colo sussurrou:

- Quer saber de uma coisa?

- Quero - respondeu ele no mesmo tom.

- Estou com uma vontade danada de cantar!


São Paulo, 04 de julho de 2014

Fresta



FRESTA



Sobre os espaços abertos
Jaz dentro de mim
Estruturas de concreto
Quase sem fim.

Um abstrato labirinto
Tão intransponível;
Um presídio do que sinto
Ser intangível!

Há uma ânsia de correr
Pelos corredores,
Há um desejo de viver
Livre de dores

E encontrar uma passagem,
‘Inda que uma fresta,
Para outra vida ou viagem
Sem que seja esta...

... Sem que seja esta.



04/07/2014




quinta-feira, 1 de maio de 2014

Abril Despedaçado



Abril, meu Abril querido...
Começou despedaçado
E finda despedaçando.

Afundo-me em mim mesmo
Sendo o abismo de minhas expectativas,
A vala dos inomináveis:

Sou a solidão de mim mesmo
Que sempre se renova
E nunca tem fim.

São Paulo, 30 de Abril de 2014