sábado, 19 de novembro de 2011

Escrevo porque tenho a sensibilidade à flor da pele...



Escrevo porque tenho a sensibilidade à flor da pele;
Porque por ironia de um deus nasci humano
E inconformado com a espécie que se diz ser mamífero...
A qual pertenço.

Que tipo de organismo, ocupa o indivíduo, suga-lhe toda essência,
Ainda que a morte do indivíduo cause a morte do organismo?
Muito bem classe, são os vírus... somos nós!
Não Luisinho, não somos mamíferos, somos vírus!
Mamíferos coabitam, coexistem, são mais coesos que nós...)

Exploramos os recursos naturais até a última gota,
E quando o local não tem mais a oferecer...
Divorciamo-nos dele.
E procuramos por algo mais jovem, mais belo e com tanto para dar...
Até que não tenha mais nada também.

Escrevo porque os pássaros não sabem ler
E nem precisam ler: não incomodam humanos a menos que ameaçados.
Escrevo para daqui a mil anos
(Ou do jeito que vai pode ser para duzentos mesmo)
Para pessoas que, se souberem ler, vejam o que perdemos.
Para pessoas que, se souberem ler, não cometam os mesmos erros
(Que nós mesmos, mesmo sabendo ler, cometemos...)
Para pessoas que, se souberem ler, leiam e sonhem
Com verde, pássaros, variados animais, rios, água potável, terra fértil e outras coisas
Tão verdadeiras para nós hoje... Tão fictício para eles no amanhã
Como dragões e serpentes marinhas e dinossauros são para mim hoje...

Eu escrevo porque algo me incomoda
Porque a pomba do espírito santo não me visitou quando nasci
Só porque chovia...
Escrevo porque eu sou o incômodo
Uma necessidade que surge de repente e expõe a sociedade toda sua podridão...
Inclusive a minha...

Segregamos os animais para nos fazer mais seguro e circular livremente.
Segregamos a nos mesmo em cores e raças e classes sociais
Segregamos os bandidos, e criamos a polícia...
(Embora, às vezes, eu não saiba quem é quem...)
Segregamos, segregamos, segregamos...

Matávamos para nos alimentar.
Matávamos para alimentar nossas companheiras.
Matávamos para alimentar a nós, nossas companheiras e nossos filhos.
Matávamos para alimentar nossa família.
Matávamos para alimentar nossos parentes
Nossos vizinhos, a comunidade, o município, o estado, o pais, o mundo...
Hoje não matamos mais: compramos Ca deveres prontos em bandejas
Pagamos indiretamente para que outros matem por nós...
E já que não vemos... Tudo bem!
Como era mesmo??
Ah... " o que os olhos não veem..."


Segregação e Morte:
A primeira lembra nome de instituição para fins humanitários;
A segunda a moça bonita de terninho e cabelo sempre alinhado
Que se faz a porta voz da empresa...
Vejo futuro neste comércio.
Onde compro ações?

E do outro lado os inconformados
Que acampam pelas praças do mundo.
O movimento cresce, elegem representantes;
Representantes escolhem secretários;
Secretários, o pessoal da expedição.
E assim, a anarquia criada para rebater a democracia social,
Democratiza-se, socializa-se, mas não percebe
Que criou uma sociedade organizada para combater a sociedade organizada...
Eles x Eles...
Que duvida cruel:
Para quem torcerei?

Outro dia, no Vale do Anhangabaú,
Uma dessas sociedades se formou embaixo do viaduto do Chá.
Tão devotos, tão nobres em seus propósitos
E tão estúpidos quanto a causa que lhe unem.
O lugar, que já cheira bem, passou a cheirar pior ainda...
Gente, como todos sabem, atrai gente.
E no meio de tantas verborragias que ali se falavam
Uma eu ouvi claramente:
"- Pare o mundo que eu quero descer?" 
Quanta gente já disse isso com mais conteúdo?
Russo, Brito, Seixas, etc...

Como aquilo me cansava o coração, pois a hipocrisia me enoja
E me pertencia também,
Como tudo,
Retirei-me
E voltei para casa reflexivo:
Por que não descemos todos e deixamos o mundo seguir sozinho?
Estave bem sem nós.
Ficará bem sem nós.

Foi então que percebi estar doente:
Minha escrita parece ser de outro...



19/11/2011

Um comentário:

  1. "Que tipo de organismo, ocupa o indivíduo" - gostei dessa inversão de perspectiva... o organismo ocupando o individuo, o indivíduo se descobrindo organismo, ser biológico, ser da natureza... estou apropriando-me indevidamente de sua frase!

    Somos mamíferos, entendo a licença poética, mas ainda somos mamíferos, literal ou metaforicamente falando. Explico-me: somos mamíferos, vírus que parasitam a si mesmos... foi a coesão social que possibilitou o apartar-se do eu, o eu só existe quando se aparta de si mesmo...

    Doentes estamos todos, nessa sociedade que nos consome ao nos fazer consumir... e quantos outros haverão dentro de nós?

    Fragmentos de pensamentos despertados por sua necessidade de escrever, Bjs!

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